Paralelamente, o governo está intensificando o combate ao garimpo ilegal
de ouro na Amazônia, foco de atritos em regiões de fronteira, num esforço que
também visa formalizar o setor para tirar proveito dos altos preços do minério.
Hoje na 11ª posição do ranking dos produtores, segundo o Serviço
Geológico Americano (USGS), o país pode subir ao 7º posto caso os planos do
governo de dobrar a extração de ouro até 2017 se concretizem. Para cumprir a
meta, espera-se que o setor receba US$ 2,4 bilhões em investimentos entre 2011
e 2015.
"Brasil está recebendo investimentos bilionários para voltar à lista dos principais exploradores de ouro."
"Brasil está recebendo investimentos bilionários para voltar à lista dos principais exploradores de ouro."
A meta do governo, expressa no último Plano Nacional de Mineração, se
sustenta nos preços do minério, que dobraram desde o início da crise econômica
mundial, em 2008.
Considerado um investimento seguro em tempos de instabilidade nas bolsas
e forte oscilação de moedas, o ouro valia cerca de US$ 800 a onça (31 gramas)
no fim de 2007. Hoje está cotado em US$ 1.600. A valorização tornou rentáveis
minas com baixo teor de ouro e outras já exploradas, antes tidas como
esgotadas.
Entre as minas que serão reabertas está a de Serra Pelada, no sudeste do
Pará. A mina atraiu milhares de migrantes nos anos 80 e fechou em 1992, em meio
ao declínio da produção. Celebrizada pelas fotografias do "formigueiro
humano" que abrigava, foi considerada o maior garimpo a céu aberto do
mundo.Outras minas que serão reabertas estão a de Riacho dos Machados, em
Minas Gerais, e a de Pilar de Goiás.
Em 2011, segundo o USGS, o Brasil produziu 65 toneladas de ouro. A maior
produtora mundial é a China, com 345 toneladas. Na América Latina, a produção
brasileira é superada apenas pela do Peru, com 170 toneladas.
Incremento
Responsável por 26 das 65 toneladas de ouro extraídas anualmente no
Brasil (17% do total), a mineradora canadense Yamana espera aumentar em 11
toneladas (40%) sua produção até 2014. O incremento virá de três novas minas na
Bahia, Mato Grosso e Goiás.
Formatos Alternativos
Com o início da operação da última delas, em Pilar de Goiás, a
exploração do minério será retomada num município fundado em 1741, durante a
primeira corrida ao ouro no Brasil.
Desta vez, porém, a mina será explorada com alta tecnologia, em túneis
subterrâneos que ultrapassam 5 quilômetros de extensão.
Segundo a Yamana, a mina terá porte médio, com produção média de 3,7
toneladas de ouro ao ano. Estima-se que cada tonelada de rocha na mina contenha
2 gramas de ouro. O metal será extraído por explosivos e separado por um longo
processo de refino.
O comerciante Delfim José de Amorim conta que se assustou com o
"inchaço" na cidade. "Nos pegaram com as calças na mão",
diz à BBC Brasil.
Segundo ele, os moradores terão de ser qualificados pela empresa para
poder pleitear os empregos na mina – a Yamana diz ter como meta usar ao menos
75% de mão de obra local em seus empreendimentos.
"Não estamos preparados para enfrentar o progresso", diz o
comerciante. Mas mesmo que não consigam empregos na mina, afirma Amorim, os
habitantes de Pilar esperam que a cidade se beneficie dos impostos a serem
arrecadados com a atividade.
Conforme os critérios atuais para a divisão desses impostos, conhecidos
como royalties, 0,65% do faturamento com a venda de ouro numa mina fica com o
município produtor – a União abocanha 0,12%, e o Estado produtor, 0,23%.
O governo pretende levar ao Congresso, porém, proposta para elevar a
cobrança de royalties para o ouro e outros minérios.
"Ouro é considerado investimento seguro em tempos de instabilidade nas bolsas e forte oscilação de moedas."
No entanto, as mineradoras afirmam que alterações podem frustrar os
planos do governo de aumentar a produção. "Faz-se investimento com base no
que está estabelecido. Mudanças nas regras do jogo sempre preocupam",
afirma Portugal, da Yamana.
A falta de mão de obra capacitada é outro entrave ao incremento da
produção, ele diz, ecoando o relato de Amorim. "Custa muito investir na
formação, e não estamos conseguindo suprir a demanda. É difícil levar um
profissional para uma área remota se ele tiver oportunidade de trabalho em Belo
Horizonte, São Paulo ou Vitória."